Por Diego Saydel Gacía
Justino García é um jovem originário de Magdalena Teitipac. Quando a mineradora Plata Real (subsidiária da empresa Sunshine Silver Mine com sede nos Estados Unidos) chegou em sua comunidade, ele tinha apenas 5 anos de idade. Agora, com 12 anos, tomou para si a responsabilidade de defender seu território contra a mineradora. Ele forma parte da radio comunitária Teitiradio “Lobadani”, que significa em zapoteco “raiz da montanha”. Essa rádio foi construída como uma necessidade da organização para a defesa contra a mineradora. Hoje em dia, a resistência é cotidiana.
Esse jovem conta que desde os cinco anos tem lembranças do momento em que a empresa quis entrar na sua comunidade. “Meus irmãos, meus amigos e eu tínhamos medo porque eles chegaram em helicóptero nas montanhas. Agora, depois de sete anos, já não temos mais medos deles, porque não queremos que os estrangeiros venham explorar as nossas terras”, conta para a Avispa Mídia o jovem radialista, conhecido como “o tigrinho”.
Magdalena Teitipac é um povoado zapoteco localizado na região dos vales centrais, no estado de Oaxaca. Essa comunidade está organizada através de uma sistema normativo próprio, sendo a assembleia geral a instância máxima de decisão da comunidade. A propriedade da terra em Teitipac é coletiva. No ano de 1975, por decisão presidencial, foram reconhecidos os Bens Comunais Magdalena Teitipac, modalidade de assentamento rural. Grande parte da população se dedica à agricultura, “somos camponeses, dependemos da terra”, compartilha para a Avispa Mídia o senhor Fernando Martínez, originário desse povoado zapoteco.
A expulsão da empresa
No dia 06 de setembro de 2007 a Direção Geral de Regulação Minerária outorgou à empresa Plata Real a concessão de exploração número 230489 da mina denominada “el doctor”. Pretendiam extrair ouro e prata em uma superfície de 9.653 hectares de terras coletivas de Magdalena Teitipac. “Não fomos informados sobre esta decisão, não sabíamos que estavam entregando nossas terras”, denuncia Martinez.
No inicio do mês de abril de 2009, o comissariado dos Bens Comunais de Magdalena Teitipac assinou um convenio permitindo à empresa mineradora Plata Real a realização dos trabalhos de pesquisa, isso sem ao consentimento da assembleia de moradores.
As ações do comissariado foram gerando insatisfação na população. “No ano de 2009, o comissariado terminou sua gestão, mas não queria sair. As pessoas que já estavam incomodadas por tudo que havia feito com a mineradora sem consultar a assembleia, decidiram tirá-lo do cargo em outubro de 2010. Essa situação afetou muito a nossa organização comunitária”, compartilha o Sr. Fernando.
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Desde abril de 2009 até julho de 2012, conforme testemunho da população, a empresa mineradora realizou 17 perfurações no território coletivo de Magdalena Teitipac, com um diâmetro aproximado de 15 centímetros cada uma. Uma perfuração perto do Rio Dulce contaminou a área e provocou a morte de animais de pastoreio. “No ano de 2011 percebemos que o trabalho da empresa mineradora estava contaminando o rio, por isso a comunidade decidiu expulsar a empresa mineradora, porque seus trabalhos estavam matando os animais e contaminando a água” lembra o Sr. Fernando.
A comunidade começou a se organizar através de assembleias comunitárias, aí tomaram as suas decisões mais importantes. No dia 23 de fevereiro de 2013, nomearam o Comitê pela Defesa da Integridade Territorial e Cultural de Magdalena Teitipac, que fortaleceu a organização contra a atuação da empresa mineradora “Plata Real”. Em julho de 2013, a assembleia geral da comunidade de Teitipac decidiu pela expulsão da empresa mineradora das suas terras. “Por meio da assembleia comunitária elaboramos um plano para cercar a empresa".
"Quando ela viu a nossa força, teve que se retirar e levou o seu maquinário. O povo também foi afetado e ferido”, comenta o senhor Fernando que, por defender seu território, enfrentou, junto com outros companheiros, a três acusações penais por fatos inventados. Nesse mesmo ano, no dia 17 de agosto, em reunião do conselho municipal, foi declarado que nos Bens Comunais de Madalena Teitipac está proibida a atividade minerária.
A festa e a luta.
Já se passaram cinco anos desde que o povo de Magdalena Teitipac expulsou a empresa mineradora “Plata Real” do seu território e declarou o seu território livre de qualquer atividade minerária. Nesses cinco anos foram tecendo estratégias para seguir a defesa da sua vida comunitária. “O comitê pela defesa do território nasceu quando iniciou o conflito com a empresa mineradora. Até hoje seguimos no plano da resistência, nosso trabalho é seguir defendendo o território, preservar a língua indígena, porque ela é uma arma muito poderosa para a resistência dos povos originários”, destaca à Avispa Mídia o senhor Augustín López, integrante do comitê pela defesa do território.
Com o objetivo de seguir defendendo o território frente às ameaças dos projetos de mineração na região dos vales centrais e em todo o estado de Oaxaca, “na sexta-feira, dia 23 de fevereiro, vamos celebrar os cinco anos que estamos em resistência. Vamos ratificar na reunião aberta do conselho municipal que o nosso território é livre de mineração, para que o governo saiba que seguimos lutando, que seguimos em resistência aqui em Teitipac e, ao mesmo tempo, queremos dessa forma convidar a outras comunidades para fazermos alianças”, comenta para a Avispa Mídia o comitê pela defesa do território de Teitipac.
Nos dias 23 e 24 de fevereiro do presente ano, as autoridades agrárias e agentes municipais de Magdalena Teitipac, junto com o Comitê pela Defesa da Integridade Territorial e Cultural e o Colectivo Oaxaqueño en Defensa de los Territorios, organizaram o segundo encontro estadual de povos, comunidades e organizações que se denomina, “Aqui dizemos sim à vida e não à mineração”.
Esse evento, que esteve aberto ao público em geral, foi dividido em dois dias. No primeiro dia foi a festa de comemoração do quinto aniversario da “luta contra a mineração e em defesa da mãe terra de Magdalena Teitipac”. No segundo dia foi realizado o “fórum de povos, comunidades e organizações para fortalecer estratégias de defesa”.
Esse encontro reuniu organizações sociais e coletivos da sociedade civil. Também foi feito um chamado aberto ao meios livres e alternativos que fazem comunicação.
O fórum denominado “sim à vida e não à mineração” contou com a presença de outros povos e comunidades de diferentes estados do México. O objetivo desse evento foi compartilhar as experiências de resistência e de luta, como o caso dos povos das montanhas do estado de Guerrero, os familiares dos mineradores de Pasta Conchos e dos povos de Chiapas que lutam contra a mineração. “Esse encontro é para compartilhar experiências, estabelecer laços entre comunidades e organizações e a união com um só objetivo, defender o nosso território”, disse para a Avispa Mídia Augustín López, integrante do comitê para a defesa do território.
O Colectivo Oaxaqueño en Defensa de los Territorios, a través da voz de Neftalí Reyes, compartilha para Avispa Mídia que esse encontro teve dois pilares, “de um lado o aniversário de luta da comunidade Teitipac que há cinco anos iniciou um processo de defesa do seu território e, por outro lado, refletir e analisar as estratégias que estão colocando as mineradoras para explorar as nossas terras, isso vai ajudar que os povos de todas as partes do Estado possamos fortalecer nossas resistências”.